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No passado considerada uma atividade marginal, arte ancestral vira patrimônio cultural brasileiro.

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No passado considerada uma atividade marginal, arte ancestral vira patrimônio cultural brasileiro. Empty No passado considerada uma atividade marginal, arte ancestral vira patrimônio cultural brasileiro.

Mensagem por Felipe Noblat Ter Jul 22, 2008 10:17 am

Mariana Rios

Cego, famoso e pobre morreu mestre Pastinha em 1981. No fim da vida, a miséria espreitou outros grandes da capoeira como Bimba, Bobó, Caiçara e Waldemar. Garantir um plano especial de aposentadoria pela Previdência Social para a velha guarda, responsável por perpetuar o legado e disseminá-lo pelo mundo, é uma das primeiras ações práticas previstas com o registro da capoeira como patrimônio cultural brasileiro. Amanhã, em cerimônia no Palácio Rio Branco, será oficializada a inscrição do ofício de mestre e da roda de capoeira como bem cultural de natureza imaterial. Com a homologação, o Ministério da Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsáveis pelo registro, devem iniciar o processo de definição na Previdência Social. “Esta é uma ação emergencial, mas que não depende apenas do Iphan. Iremos começar o mais rápido possível o levantamento para identificar os antigos mestres em todo o país. Para a pesquisa que fundamentou o pedido de registro identificamos antigos mestres em Salvador, Recife e Rio de Janeiro”, afirmou a diretora de Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna, que não pôde precisar o número de antigos mestres localizados em Salvador, pois não estava com o processo em mãos durante a entrevista. Segundo Márcia, o plano especial de previdência será voltado para mestres acima de 60 anos, formados na tradição oral, e que tenham tido dificuldades de contribuir com a Previdência ao longo dos anos. O pesquisador Frede Abreu explica que apesar da fama da capoeira em todo o mundo – estima-se que esteja em mais de 150 países – antigos mestres estão à mingua. “Toda esta expansão foi possível ao custo de grande sacrifício. A capoeira não tinha condição de dar retorno àquela época e hoje traz dividendos culturais e também econômicos para a Bahia”, disse Abreu, que se mostrou descrente com a proposta do plano previdenciário.“A ação envolve outras instâncias governamentais, e não sei quando será fechada a articulação. Só para o processo de registro da capoeira foram mais de cinco anos”, completou Abreu. Segundo ele, a mesma proposta foi feita também para os antigos do samba-de-roda do recôncavo que, depois de ter o registro em 2004, ainda esperam a aposentadoria. Mas o anúncio da possibilidade já foi motivo para que antigos mestres, como Gigante, ou melhor Francisco de Assis, 84 anos, fizesse planos. “Meu telhado está para cair, preciso desse auxílio. Sou homenageado, mas no have money”, brincou Gigante, com seu pouco mais de 1,57m.Veteranos queriam opinarMas afinal quem são os velhos mestres? Para o historiador e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carlos Eugênio Líbano Soares, esta é a questão. “Não há consenso. Em 2007, pelo Programa Capoeira Viva, foi paga uma bolsa para 20 grandes mestres apenas (por seis meses) mas não houve continuidade”, contou Soares.Nomes que hoje são referência na capoeira, alegaram que não foram consultados para a definição do plano de salvaguarda, que reúne uma série de recomendações para preservação da tradição cultural. Mestres como Curió, Boca Rica e Moraes afirmam que ficaram de fora das discussões, embora a representante do Iphan tenha dito que houve um trabalho compartilhado. “Não fui consultado para contribuir com minha experiência. Não vejo com surpresa. Sou crítico e com condição de criticar. Mas receio que seja beneficiado apenas quem contribuiu para o projeto e não pelo verdadeiro legado”, lamentou Pedro Moraes Trindade, 58 anos, o mestre Moraes. A diretora de Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna, explicou que foram dois anos de pesquisas histórica e de campo reunidas num dossiê que compõe o processo de registro. Sob supervisão do Iphan, o resultado é trabalho de uma equipe multidisciplinar de profissionais de história, antropologia, psicologia, educação física e artes cênicas, em parceria com as Universidades Federais do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Federal Fluminense. A unanimidade entre os mestres é de que nunca se viu tantos surgindo. “Tem mais que peixe no mar”, brinca Gigante. O padrão dominante de mestres atualmente, segundo Líbano Soares é formado por jovens, com pouco mais de 20 anos, cujo acesso ao mercado de trabalho é pela capoeira. “O governo federal também deve estimular e dar oportunidade, vir à frente, disponibilizar um cadastro informatizado para que eles se apresentem e mostrem o trabalho que realizam”, sugere.***Conselho consultivo aprova registroO Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reúne amanhã, é a entidade responsável pela aprovação dos tombamentos e registros do patrimônio nacional. Uma vez registrado o bem, será possível elaborar projetos e políticas públicas que envolvam ações necessárias à preservação e continuidade da manifestação. É aprovado o tombamento quando se trata de bem cultural cujo suporte de valor é algo material, como um prédio histórico, por exemplo. Já o registro é direcionado a práticas de vida cultural, cujo suporte é o conhecimento humano.***Os benefíciosPara todo bem imaterial registrado é elaborado um plano de salvaguarda. Segundo o Iphan, as sugestões são reunidas após discussão com mestres e grupos que representam a tradição cultural. Para a capoeira estão previstos: Um plano de previdência especial para os velhos mestres; O estabelecimento de um programa de incentivo desta manifestação no mundo; Banco de histórias de mestres de capoeira, a criação de um centro nacional de referência da capoeira; O plano de manejo da biriba – madeira utilizada na fabricação do berimbau – e outros recursos naturais;Desvinculação obrigatória do Conselho Federal de Educação Física, ao qual a capoeira está subordinada, para que mestres de capoeira sem escolaridade, mas detentores do saber, possam ensinar em colégios, escolas e universidades.

Felipe Noblat
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